terça-feira, 7 de outubro de 2014

Quatro de doze

No último post eu falei um pouco sobre as condições de uma au pair, das minhas condições como au pair. Hoje, pensando em como minha vida está indo, minha vida no sentido literal, emocional, físico e psicológico, decidi analisar a minha condição de ser humana na Holanda. As descobertas não param no país das tulipas. Lá se vão quatro meses...

Hoje mesmo lendo um post no blog da Déh Gouthier, coincidentemente o post de quatro meses de au pair  na Holanda, eu identifiquei uma porção de fatos cotidianos que aconteceu com ela e hoje estão acontecendo comigo. Primeiro, no post ela conta sobre uma viagem incrível que ela fez em meados dos seus quatro meses  e em como algumas provações do destino fizeram ela notar que um terço do programa se passou e ela sobreviveu muito bem, obrigada.

Quatro meses é um terço do todo e eu também passei por dias difíceis no último mês, assim como a Déh. Fiquei doente de verdade pela primeira vez, não foi bem um doente onde tive que ir ao médico e comprar remédios sozinha, mas um doente de passar muito mal por dois dias seguidos sem saber muito bem o que fazer.

Tudo começou com uma dorzinha chata e um pouco de diarreia na primeira semana, na semana seguinte, exatamente sete dias depois a dorzinha chata voltou com tudo e com um combo de diarreia, vômito e desidratação, e nesse dia eu tive MESMO que me virar sozinha. Como se não bastasse tudo começar durante  minha única aula de inglês semanal, eu tive que pegar um tram, um trem e andar até em casa ora segurando o vômito, ora vomitando nas plantinhas. Depois de estar em casa eu não sabia se estava aliviada ou mais desesperada por já ser tarde da noite, meus hosts estarem dormindo, as kids dormindo nos quartos do lado e os sintomas só piorarem a cada minuto. Não tinha minha mãe pra me ajudar, não tinha pronto socorro, postinho de saúde, o diabo a quatro, não tinha NADA, era eu, minha cama e a privada. Pela segunda vez em duas semanas eu tive que me virar sozinha.

Na primeira semana ainda só com as dores e a diarreia eu não comentei nada com meus hosts e trabalhei as minhas 10 horas de schedule na quinta-feira, com direito a buscar criança na escola, dar comida, fazer janta. Resumindo, tive que dar conta de mim e mais três crianças. A segunda semana foi um pouco mais hard e eu fiquei realmente mal e desidratada, passei uma noite e um dia inteiro fazendo meu próprio soro e própria comida para dar conta de mim mesma, graças a Deus e ao bom senso da minha host, fiquei um dia inteiro off mofando na cama recuperando as forças.

Repetindo e refletindo o que eu li ainda no post da Déh, o que ficou disso tudo? Ficou que eu consegui, eu sobrevivi, eu me virei sozinha e eu consigo ver mais claramente que eu posso mais, e que a vida não vai me derrubar tão fácil. Fico orgulhosa de mim mesma falando isso, relembrando isso tudo. Quatro meses se passaram e realmente não é muita coisa ainda, as vezes eu tenho a impressão que é um pedaço entre a metade e o começo, mas é um pedaço que a gente já consegue definir algumas coisas indefinidas, começa a enxergar melhor sobre a família, sobre o trabalho e as crianças, são os laços que tomam força e um coração que vive numa montanha russa sem fim.

São quatro de doze meses. Eu já consigo (algumas vezes) não deixar a saudade me atrapalhar; consigo (ou tento) tirar uma horinha do meu dia pra falar com meus amigos e família, mas ao mesmo tempo já são quatro meses que eu sei menos sobre a vida e rotina deles; já são quatro meses que eu sei andar de bike e falar no celular; quatro que se passaram e eu sei meia dúzia de palavras em holandês mas que por outro lado já consigo ver uma melhora razoável no inglês; já são quatro meses que eu sei quando uma criança tá fazendo manha ou não e que consegui ensinar um pouquinho, educar um pouquinho; quatro meses e quase 4 kilos a mais na balança (odeio confessar isso) e juro que não sei como isso aconteceu porque aqui eles comem bem até demais; quatro meses acordando 07:30 da manhã mesmo sem querer porque tem criança gritando no pé da minha orelha o tempo todo; incríveis quatro meses que eu consegui me adaptar (um pouquinho) com a rotina de comer pão no almoço todo dia. São quatro meses que eu venho abrindo a porta do meu coração, ora com medo ora apreensiva, sempre olhando pra frente e nunca olhando pra trás.



2 comentários:

  1. Força meu amor! Você pode, você consegue!

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  2. Ô tadinha de vc amiga! É aquela coisa, o que não mata fortalece! Então a gente vai embora dessa porra forte que nem leão. Mas vamos juntas que de duas é melhor mais fácil né. ;)

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