domingo, 5 de outubro de 2014

Condições de au pair


Muitas coisas acontecem por aqui e me fazem pensar o que faz de mim uma au pair assim e "assado" e que me diferencia das outras au pairs. Eu tenho analisado muitas situações cotidianas e conversado com outras amigas "trocando" experiências do dia a dia, horários de trabalho e funções que determinam o cotidiano da au pair. Percebi que fomos trazidas e motivadas pelas mesmas coisas mas que quando chegamos aqui e vivemos a realidade, aí sim a conversa muda de rumo...

Pra começar, durante todo o processo passamos pelo mesmo sentimento de animação e apreensão pela busca da "família perfeita" com crianças lindas, felizes, doces e amáveis, e hosts parents perfeitos com quem vamos nos identificar e sentir parte da família. Primeiro ponto em comum e primeiro ponto que "caímos do cavalo": não existe família perfeita e não existem crianças felizes, doces e amáveis 24 horas por dia, e não, não somos e nunca seremos parte da família. Quando a gente chega aqui as coisas ficam um pouco mais claras e começamos a perceber que por mais legal que a host family seja eles tem a família deles, momentos deles, língua e costumes deles, no qual jamais vamos fazer parte.

Outro ponto que eu tenho percebido e analisado sobre essa condição de au pair é o famoso: schedule, agenda, horários de trabalho e funções que exercemos na casa. Antes de embarcar nós recebemos esse schedule explicando a rotina e horário de trabalho, mas veja bem, uma grande porcentagem de meninas e amigas au pair NÃO cumprem com o schedule estabelecido, é fato que os dias e planejamentos mudam conforme o tempo, mas além disso a gente passa a perceber que morar na mesma casa que a host family dá-lhes a "liberdade" de nos encher de pedidos de "favores" durante a semana. Agora como experiência própria e não generalizando nossa condição, 4 meses eu completo agora na Holanda, e isso é uma das coisas que tem mais ficado claro na minha rotina e na minha condição de au pair: não importa quantos "favores" você faça, e não importa que você trabalhe mais do que as 30 horas estabelecidas, eles SEMPRE vão querer mais e mais, é o famoso: "você oferece a mão eles vão logo querendo o braço, a perna, o pé..." e sem limites, sem vergonha na cara. O tal do holandês! E aí o tempo passa e você aprende que isso nunca vai mudar e que a mudança precisa partir de você, impondo limites e dizendo uns "não" de vez em quando.

Mas como tudo nessa vida tem uma contra partida, os favores, e horários de trabalho a mais são recompensados em outras medidas. Algumas meninas recebem uma boa graninha extra, outras tem a liberdade de tirar dias de folga quando possível, outras recebem presentes, ou fazem negócios sobre viagens. Cada caso é um caso e cada família escolhe um jeito de fazer essa "troca" de favores ao longo do ano. O meu caso em especial tem me feito pensar em várias coisas do meu ano de au pair, das minhas condições, da minha host family e de todos os "prós" e "contras". Um fato em especial aconteceu para que eu começasse a pensar nisso e colocar na balança o que me  tão feliz, ou tão menos feliz que as outras meninas. 

Eu sou um dos casos de menina que trabalha mais do que 30 horas semanais, faço babysittings a noite e alguns babysittings finais de semana sem receber uma quantia se quer razoável em vista do meu trabalho, eu sou também a pessoa que não tem a host family perfeita, alguns dias me sinto sozinha, eles não tem o costume de me dar presentes e me levarem pra conhecer as cidades e cultura deles, algumas vezes nós trocamos meia dúzia de palavras por dia, no geral eles são bem ocupados e trabalham bastante, e algumas vezes abusam literalmente da minha boa vontade. Em contra partida eles tentam me recompensar de várias outras maneiras, por exemplo: eu sou uma au pair pra lá de sortuda nos quesitos: transporte, celular e supermercado, pois tenho créditos ilimitados nesses três pontos,e só depois que você chega aqui na Holanda é que você percebe o quão importante são. Tenho sido recompensada fazendo um curso bem bacana de inglês em que eles também pagam um pouco a mais do que deveriam, posso receber amigas e família em casa, e a melhor e mais maluca das surpresas e recompensas que eu realmente não pensei que receberia: eles me deram uma passagem de ida e volta para o Brasil fora de temporada de férias para eu passar uma semana com minha família e amigos e ir ao casamento de uma grande amiga.

É certo que algumas atitudes me fazem pensar sobre minha condição de au pair e me fazem entender que algumas vezes precisamos fazer coisas para receber outras em troca. De fato, no fundo do meu coração eu também gostaria de ser um pouquinho mais parte da família, de fazer mais parte da vida e viver mais a cultura deles, mas por outro lado eu sou bem feliz de poder ter meu canto, meu tempo,  meu espaço, poder negociar viagens e ter todas as minhas regalias, que não são muitas, podem não ser as melhores e as mais perfeitas, mas são minhas. 

Alguns dias os passam voando aqui, principalmente os finais de semana, outros se arrastam como se demorasse a eternidade, mas todos os dias eu aprendo um pouco mais, descubro um pouco mais de mim, da minha vida, dos meus limites e dos meus "prós", "contras" e condições de vida de au pair. Já são longos e curtos 4 meses na Holanda do amor. 


2 comentários:

  1. Roberta, muito bom esse post, sempre tive dúvidas sobre a questão de morar e trabalhar com a família. Quero fazer um intercâmbio e au pair sempre foi uma opção, adoro ler suas publicações e ver como é a pratica. (Luma)

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  2. Adorei o post Roberta , tenho esse medinho em ralação a família tb..mas acredito muito que a gente atrai o que transmite ..e q tudo na vida e troca..como todos os prós tem os contras e como também tudo vem como um aprendizado e com um propósito . Talvez seja um momento para vc se conhecer, conhecer os seus limites com o seu interior .. Ter o autoreconhecimento... Que bom q apesar dos contras está dando td certo p vc . Estou no processo de aupair e provavelmente começo do ano que vem estarei ai. Espero que td dê certo tb Bj

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